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Obama: Primeiro presidente negro dos EUA é reeleito e faz história


"Isto aconteceu graças a vocês, obrigado. Mais quatro anos", escreveu o presidente Barack Obama em seu perfil no Twitter na madrugada desta quarta-feira (7), após ser anunciado vencedor das eleições americanas em várias projeções. Um pioneiro em utilizar politicamente as redes sociais, o democrata Obama fez uma campanha mais pragmática e menos apelativa do que em 2008 - principalmente por causa do abalo gerado pela crise econômica em seu mandato.

Neste ano, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos tentou encontrar uma nova mensagem para atrair simpatizantes que, há quatro anos, na grande campanha realizada junto a bases eleitorais, repetiram sua oratória baseada no "Yes We Can" ("Sim Nós Podemos").

Os slogans sobre "esperança" e "mudança", usados quando o candidato se apresentou como um líder visionário para mudar o destino dos Estados Unidos, sumiram. Sob o lema "América avança", no entanto, a atual campanha de Obama buscou ecoar o mesmo entusiasmo do pleito anterior, afirmando que o país "precisa proteger o progresso conquistado".
Mas o cenário atual é bem diferente. Apesar de muitos problemas do país terem começado antes de sua presidência, Obama tornou-se face da lenta recuperação econômica da nação. Durante a campanha, um raio de esperança surgiu em forma de número: o desemprego caiu para menos de 8%, o menor índice desde janeiro de 2009.

Nos quase quatro anos de governo, Obama não conseguiu cumprir grandes promessas da campanha anterior, como o fechamento da polêmica prisão de Guantánamo, em Cuba, onde estão suspeitos de terrorismo. A reforma no sistema de saúde americano ainda gera divisões. O presidente também é questionado por republicanos descontentes com o posicionamento dos Estados Unidos diante da crise na Líbia – onde quatro funcionários de um consulado americano foram mortos em ataque terrorista – e nos países do Oriente Médio.

Em contrapartida, Obama tentou colocar em prática sua luta por mudanças: além da reforma do sistema de saúde, promoveu mudanças nas regras para o sistema financeiro, ordenou o fim da restrição que obrigava homossexuais a esconder sua orientação sexual nas Forças Armadas, estimulou o relaxamento de leis para jovens imigrantes ilegais, anunciou a retirada de tropas do Iraque e ordenou a ação que resultou na morte do líder da rede terrorista da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
Numa disputa acirrada, o presidente apareceu praticamente empatado nas pesquisas de intenção de voto com o rival republicano Mitt Romney, com variações de poucos pontos percentuais para um e para outro. E, embora não ostentasse mais a mesma popularidade de quando foi eleito, o democrata ainda era visto como uma melhor liderança por 20 de 21 países pesquisados, incluindo o Brasil, num levantamento encomendado pela BBC antes da votação.

Trajetória ‘improvável’
Além da boa imagem no exterior, Obama também teve a seu favor o carisma e o poder da oratória, duas característica muito comentadas na histórica campanha de 2008, em que o político de pouca experiência – ele foi senador por apenas quatro anos e, antes disso, legislador estadual de Illinois por oito – conseguiu vencer a senadora Hillary Clinton, hoje sua secretária de Estado, pela indicação do partido e arrebatar milhares de seguidores até chegar à Casa Branca.

"Minha presença neste palco é improvável", disse Obama em 2004, ao discursar na Convenção do Partido Democrata para apresentar a candidatura de John Kerry. Pouco conhecido fora do estado de Illinois, ali começava a trajetória do futuro presidente.
"Sou filho de um estudante estrangeiro do Quênia que veio aos EUA. Minha história é parte de uma maior história americana, que tem fé em sonhos simples: vida, liberdade e busca pela felicidade", continuou, antes de concluir com sua famosa frase: "Não há uma América liberal ou conservadora, uma América branca ou negra, há os Estados Unidos da América".

A "improvável" história de Obama começa no Havaí, há 51 anos. Seu pai, também chamado Barack Obama, era um aluno negro com bolsa de estudos que viajou de sua pequena vila no Quênia para estudar na Universidade do Havaí. Sua mãe, Ann Dunham, era branca e tinha só 18 anos quando eles se conheceram numa aula de russo. Barack – "abençoado" em árabe – nasceu em 4 de agosto de 1961.

O casamento de seus pais durou pouco. Seu pai deixou a família para estudar em Harvard quando o filho fez dois anos, voltando apenas uma vez. O menino foi criado pela mãe (que se casou de novo e teve a menina Maya) e pelos avós maternos.
Primeiro emprego
Além do Havaí, Obama morou na Indonésia, em Nova York, onde estudou, e em Chicago, que se tornaria a sua base política. Obama chegou a Chicago em 1985, com um diploma universitário, um mapa da cidade e um novo emprego – organizador de comunidade – com salário inicial de US$ 13 mil por ano (incluindo dinheiro para despesas com automóvel).

Trabalhando para o Projeto de Comunidades em Desenvolvimento, organizou igrejas negras no bairro industrial de South Side, uma área prejudicada pela perda das usinas de aço e das fábricas. Suas tarefas eram mobilizar os residentes a promover mudanças, seja fazendo um lobby por um centro de treinamento para empregos, seja exigindo mais parques ou removendo amianto de casas.

Em três anos como organizador, Obama se tornou cada vez mais consciente dos limites daquilo que poderia conquistar e foi ficando cada vez mais pragmático, diz Gerald Kellman, o homem que o contratou. A experiência de seu pai como funcionário público na África era uma história que servia como exemplo. "Ele tinha essa noção de que seu pai era idealista demais e não era prático o bastante e não havia conseguido o que queria", afirma.
Pouco depois, Obama partiu para Harvard, onde se formaria em Direito, em 1991. Lá, ele viveu dois momentos cruciais. Um foi durante o primeiro verão em que trabalhou numa grande firma de advocacia em Chicago e conheceu outra graduada de Direito em Harvard, Michelle Robinson, que se tornaria sua esposa em 1992 e a mãe de suas duas filhas, Malia e Sasha. Outro foi um triunfo pessoal: Obama chegou às manchetes quando foi eleito o primeiro presidente negro do Harvard Law Review, talvez a mais prestigiada publicação jurídica do país.

Vida política
Ao se formar, apesar das ofertas para advogar, Obama decidiu seguir carreira política. De volta a Chicago, juntou-se a uma pequena firma de direitos civis, criou uma campanha e deu aula de direito constitucional na Faculdade de Direito da Universidade de Chicago.

Em 1996, ele foi eleito para o cargo no Parlamento estadual representando Hyde Park – a região em South Side que inclui a universidade e alguns bairros bastante pobres. Obama ajudou a mudar as leis sobre pena de morte, ética e perfil racial, e ganhou crédito de impostos para trabalhadores pobres. Mas ele falhou em sua campanha pelo seguro saúde universal.
Após oito anos como legislador estadual, Obama conseguiu eleger-se senador, em 2004. Não precisou, portanto, posicionar-se quanto à invasão do Iraque, definida no ano anterior.

Ao mesmo tempo em que ganhou força política, Obama também encontrou desprezo. Alguns legisladores inicialmente pensaram que ele era um pouco arrogante. Em contrapartida, líderes negros já questionaram se Obama seria "negro o suficiente".

Em seu livro "A audácia da esperança", ele diz que ser senador o poupou de alguns dos "esbarrões e hematomas" que muitos homens negros suportam. Mas também escreveu que havia enfrentado "o ritual de mesquinharias", incluindo guardas de segurança que o seguiram em lojas de departamentos, casais brancos entregando a chave do carro a ele do lado de fora de restaurantes, confundindo-o com o manobrista.
"Eu sei como é quando as pessoas me dizem que não posso fazer algo por causa da minha cor e eu sei o gosto amargo do orgulho negro engolido".

Nobel da Paz
No mesmo ano em que se elegeu senador, Obama ganhou projeção nacional na Convenção Democrata. Desde então, sua imagem também fora da cadeira de presidente só cresceu: escreveu dois livros best-sellers, ganhou um Grammy por ter gravado um deles e é frequentemente requisitado para entrevistas em jornais e programas de TV sobre os mais variados assuntos.

Em 2009, recebeu o prêmio Nobel da Paz "por conta dos apelos do presidente pelo desarmamento nuclear e por seu trabalho pela paz mundial".

Durante a campanha, Obama tentou repetir o discurso de 2008, insistindo no plano para elevar os impostos dos mais ricos e na manutenção do sistema de saúde para os idosos, além de demonstrar mais sensibilidade com a classe média que Romney.

Não foi fácil retomar, com o "em frente", o entusiasmo provocado pelo slogan de "mudança" que o transformou em super-herói.

Em 2012, sem o mesmo encanto, o democrata apostou na continuidade de seu trabalho. E foi recompensado nas urnas.

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