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Sem emprego, estudante pede moedas em semáforo no Recife para imprimir currículo e voltar à faculdade

Desempregado, William Douglad pede e, ao mesmo tempo, agradece pela ajuda dada por motoristas no trânsito recifense (Foto: Marina Meireles/G1)
Desempregado, William Douglad pede e, ao mesmo tempo, agradece pela ajuda dada por motoristas no trânsito recifense (Foto: Marina Meireles/G1)
Desempregado e sem dinheiro para pagar a faculdade, o pernambucano William Douglad da Silva, de 22 anos, precisou trancar o curso de direito, mas desistir do sonho de ser advogado era algo fora de cogitação. Com a vergonha de lado e um cartaz nas mãos, o jovem buscou ajuda em um semáforo da Zona Sul do Recife, pedindo moedas a motoristas para conseguir imprimir e distribuir seu currículo para voltar ao mercado de trabalho e, assim, concluir a graduação.

A situação apertou quando, depois das férias em 2017, William foi demitido de uma empresa onde atuava como assistente administrativo. “Eu passei muito tempo indo todo dia na Agência do Trabalho e, na maioria das vezes, não tinha vaga. Conseguia algumas entrevistas, pegavam meu currículo, mas não tive sucesso. Então chegou o momento em que eu pensei que poderia tentar de outra forma e foi isso que eu fiz”, conta o estudante de uma faculdade particular do Recife.

A demissão fez com que o filho de uma zeladora e um taxista interrompesse o curso no 5º período, com uma dívida estudantil de R$ 7 mil nas costas. Cientes do que havia acontecido, alguns colegas da faculdade fizeram uma "vaquinha" para ajudá-lo a quitar as despesas, mas William não queria esperar, parado, pela ajuda dos amigos.

Com palavras escritas em um cartaz para cada turno do dia, William passou cerca de dez dias repetindo a mesma ação. “Eu sabia que algumas pessoas poderiam sentir medo, então decidi não ficar andando no meio dos carros. Fiquei parado, segurando o cartaz, para que me vissem”, conta o jovem, relembrando, também, que o motivo que o levou até o trânsito frenético da Avenida Fernando Simões Barbosa, em Boa Viagem, era maior do que a sua timidez.

“Eu tinha visto que um jovem em Brasília que engraxava sapatos correu atrás, conseguiu terminar a faculdade e deram a ele a oportunidade de trabalhar num escritório de advocacia, que era o sonho dele. Pensei muito nessa história e tive uma base para tomar essa iniciativa”, diz, inspirado por dividir com o engraxate o mesmo objetivo de atuar no mundo do direito.

Entre janelas fechadas e palavras de apoio, William conseguiu arrecadar o suficiente não só para imprimir os currículos, mas também para comer durante as oito horas em que ficava em pé e para comprar as passagens de ônibus da Boa Vista, no Centro, até o ponto na Zona Sul em que costumava arrecadar o dinheiro e buscar oportunidades de emprego.

“Algumas pessoas pediram o meu telefone, entraram em contato comigo e me ofereceram emprego”, comemora. Em cenário diferente do inicial, William tem agora, diante de si, o desafio de escolher qual a melhor oportunidade para aceitar, chegando a recusar postos que, de cara, não eram compatíveis com seu objetivo pessoal de advogar.

“Eu queria aceitar tudo que estão me oferecendo porque sei que estão tentando me ajudar. O que eu tenho feito é agradecer, de coração, a todo mundo que me ajudou e que me ofereceu emprego, mas preciso escolher um trabalho que dê para conciliar com a faculdade”, diz, surpreso por estar numa posição em que não imaginou chegar quando pediu pelas primeiras moedas.

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