Da Grécia Antiga à pós-modernidade, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que será aplicado neste domingo (4) pode trazer questões que abordam diversos pensadores históricos. Por isso, a pedido do G1, o professor José Maurício Fonzaghi Mazzucco, que dá aulas de filosofia no Curso e Colégio Objetivo, selecionou cinco filósofos ou autores que podem aparecer na prova de ciências humanas – e inclusive em linguagens, ou até exatas.
São eles:
- Aristóteles
- René Descartes
- Immanuel Kant
- Maquiavel
- Karl Marx
Uma dica do professor para não cometer erros na prova objetiva, quando o assunto é sociologia ou filosofia, é driblar as possíveis pegadinhas do Enem. Segundo ele, só saber as frases ou conceitos do autor não garante a alternativa correta: é preciso prestar atenção na pergunta.
"O Enem cita uma frase de um autor, e ali ele vai propor uma pergunta. A resposta nem sempre é uma frase que parece representar o pensamento do autor. A resposta certa é aquela que responde à pergunta feita pela questão", explica Mazzucco
Para ele, a solução para evitar problemas nessa área é prestar atenção ao texto das alternativas, para encontrar a que se emenda melhor à pergunta e tenha ressonância no texto do enunciado. "Sabe aquela resposta que tem o sabor do texto, que usou as palavras semelhantes às do texto, e que responda à pergunta do texto? Essa é uma dica que eu dou sempre para os candidatos."
Veja abaixo as explicações do professor sobre os principais conceitos de cada pensador, e teste seus conhecimentos com questões sobre cada autor de edições anteriores do Enem:
1- Aristóteles
- Filósofo que viveu na Grécia Antiga
- É considerado o “pai da lógica”, conceito que nos acompanha até hoje
- Foi discípulo de Platão, mas rompeu com conceitos de seu mentor, como o dualismo e a metafísica de Platão
- Ele também acreditava na metafísica, mas era outra metafísica
- Ao contrário de Platão, que não olhava muito para o mundo, Aristóteles olhou muito para a natureza
Segundo Mazzucco, Aristóteles é citado desde a Idade Média, desde o século XIII. "Ele é muito importante. Todo ano tem que estudar", alertou o professor.
Um dos conceitos de Aristóteles que tem chances de aparecer na prova é o silogismo, que, segundo o professor, é a ideia do pensamento dedutivo, indutivo, que trabalha com o raciocínio e a lógica.
Mazzucco deixa como palpite uma possível questão que dialogue com a filosofia e com a história da arte. Ele cita como exemplo o quadro “A escola de Atenas”, considerada a obra-prima do pintor renascentista Rafael.
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Reprodução da obra 'Escola de Atenas', do renascentista Rafael — Foto: Reprodução |
"É uma obra belíssima”, afirmou o professor. “No centro dessa obra tem duas personagens. Um deles é Platão e o outro é Aristóteles. O Platão tinha ainda o rosto do Leonardo da Vinci, o amigo do Rafael. Mas o Platão está apontando para o céu, e o Aristóteles está com a mão apontando para baixo", explicou.
"E o que Rafael parece querer dizer é que precisa fazer um diálogo entre essas duas coisas. Uma filosofia que dialoga com o mundo, que está no mundo, e uma filosofia que é transcendente."
Mazzucco lembra que os demais personagens do quadro também são pensadores e que o corpo do filósofo retrata um pouco a sua filosofia. "Se está sentado, de pé... O aluno tem que prestar atenção nisso. Dá para fazer um curso inteiro só sobre esse quadro", disse ele.
2- RENÉ DESCARTES
- Filósofo e matemático francês que viveu no século XVII
- É o primeiro pensador da dualidade, ou seja, a ideia de que existe a realidade “pensante” e a realidade “material”
- Considerado o “pai do pensamento moderno”
- Sua frase mais famosa é “penso, logo existo”
- Defende o “ceticismo metodológico”
A dualidade cartesiana, segundo o professor, está por trás da frase “penso, logo existo”, que se torno uma das mais célebres da história da filosofia. Mazzucco explica que ela significa uma defesa de Descartes à necessidade de as pessoas se identificarem com a “realidade pensante”, e não com a “realidade material”.
“Ele é um racionalista na área da epistemologia”, diz o professor. “Ele acha que o conhecimento está dentro do ser humano, dormente.” Por isso, segundo ele, as pessoas devem desconfiar de seus sentidos.
Ele dá como exemplo o céu. “Todo dia você olha para o céu e vê que o Sol nasce a leste e se põe a oeste. Aí você deduz que o Sol gira em torno da Terra. Mas não é verdade. Então, os sentidos enganam a gente.”
Já o conceito de ceticismo metodológico, segundo o professor, também está por trás da famosa frase. "Ele também é importante porque vai dizer que é preciso duvidar e libertar-se de tudo o que é ensinado", explicou Mazzucco. "Ele quer dizer: tenha um método de descrer antes de aceitar a verdade. Isso é importante para a ciência. Não existiria ciência sem Descartes."
3- IMMANUEL KANT
- Filósofo da Prússia que viveu no século XVIII
- Fez o que se considera uma “revolução copérnica” na epistemologia (a área da filosofia que estuda a forma como o ser humano produz conhecimento)
- Dois assuntos sobre o Kant costumam cair nos vestibulares: o imperativo categórico e o conceito epistemológico
Para o professor Mazzucco, Kant é o filósofo mais importante da área do pensamento.
Segundo ele, o imperativo categórico representa "a ideia de encontrar uma atitude moral do ser humano que tenha aplicação universal. E que seja um gesto gratuito, sem qualquer interesse religioso, pessoal, nada. O gesto desinteressado, ou seja, fazer a coisa certa porque é a coisa certa a fazer”.
Mazzucco dá um exemplo prático que costuma repetir aos alunos em sala de aula: "Pagar uma dívida para não ficar com o nome sujo não é imperativo categórico. Eu pagar meu irmão uma dívida porque não quero que ele pense mal de mim também não é. Mas se eu entrar nunca loja, comprar um livro, e eu percebi, ao sair da loja, que a pessoa me deu R$ 10 a mais, não é meu. Eu nunca mais vou entrar nessa livraria, mas vou lá e devolvo os R$ 10, eu só devolvi e saí sem pensar em prêmio ou castigo, isso é imperativo categórico."
Outro conceito importante de Kant e que, de acordo com o professor do Objetivo, também cai bastante nos vestibulares, é o conceito epistemológico. "Ele vai dizer, não vejo as coisas em si, eu vejo as coisas em mim", resumiu Mazzucco. "Hoje parece meio óbvio, mas ele é o primeiro cara que vai dizer: ‘cuidado, porque conhecimento é interpretação, não é um olhar objetivo’."
Para Mazzucco, "todo conhecimento é uma interpretação. Não quer dizer que não tenha valor. Mas ele vai dizer que nós não enxergamos as coisas exatamente como elas são. Temos sempre uma interpretação".
"Ele faz uma revolução na época e, a partir do Kant não dá para pensar mais da mesma forma que antes."
4- MAQUIAVEL
- Filósofo, historiador e diplomata italiano que viveu os séculos XV e XVI
- Costuma cair muito no Enem, inclusive na prova de linguagens
- É um pensador da política, considerado o pai da ciência política moderna
- Seu conceito mais famoso, embora não seja uma frase dita de fato por ele, é que os fins justificam os meios.
- Tem uma antropologia pessimista em relação ao ser humano, como Thomas Hobbes
- Defensor do Estado laico
- Considera-se que ele implantou a modernidade
O conceito de que os fins justificam os meios está o tempo todo na obra principal dele, “O príncipe”, afirma o professor.
Segundo Mazzucco, a “antropologia pessimista” de Maquiavel significa que ele acredita que o ser humano é egoísta. “Ele acha que o homem é voltado para o próprio umbigo, é a lei do esforço mínimo. Então é essa coisa de confiar no ser humano, ele bota a questão da misantropia um pouco”, diz o professor.
“É complicado confiar no ser humano, achar que o ser humano vai implantar a democracia e ser feliz para sempre. Ou que com o socialismo daqui em diante tudo vai funcionar. Não é bem assim, porque são modelos ainda tocados por essa espécie complicada que é o ser humano. Um ser humano que se embriaga pelo poder, por exemplo, ou que se afrouxa diante do poder.”
A dica do professor aos estudantes é compreender primeiro essa posição pessimista para depois entender o pensamento de Maquiavel.
5- KARL MARX
- Filósofo e sociólogo socialista da Prússia que viveu no século XIX
- Criou uma série de escolas, chamadas de marxismos
- É o pensador da crítica ao capitalismo e anteviu a globalização
- Tem uma visão dialética que é um pouco mecanicista, mas que percebe as contradições como parte da História
- Defendeu os conceitos de materialismo dialético e da alienação
- Para Marx, o motor da História é a evolução dos modos de produção
Mazzucco afirma que incluiu Marx na lista porque, apesar de ter aparecido apenas uma vez no Enem (veja na questão abaixo), existe chance de ser abordado novamente. "Por ser um pensador tão importante, e só ter caído uma vez, pode cair", disse ele, lembrando que os conceitos do autor conseguiram dividir o mundo.
O professor afirma não ser marxista (nome atribuído a pessoas que aplicam ou seguem os conceitos criados por Marx em sua atuação acadêmica ou social). "Nunca fui marxista. Mas jamais joguei na lata de lixo qualquer pensador. Todos disseram algo que me interessou, e o Marx é um pensador muito importante, muito interessante."
Ele alerta os alunos, porém que é preciso tomar cuidado na hora do vestibular para não confundir os conceitos do pensador prussiano.
Segundo o professor, o materialismo de Marx significa a ideia de que o pensamento dialético é percebido como o movimento da História, justamente com a questão da evolução dos modos de produção. "O aluno precisa entender isso, porque pode entender mal a palavra ‘materialismo’", explica o professor.
Outro conceito importante da obra de Marx é a alienação, diz Mazzucco.
"O Enem pode cobrar o tema abordando o trabalho em várias formas de alienação. Tem a alienação política, a alienação econômica, a alienação intelectual... Então, como o trabalho dentro do capitalismo produz alienação é um tema que pode cair."
Um terceiro tema trabalhado por Marx que, apesar de mais difícil, pode aparecer no Enem, é o conceito de "mais valia".
Segundo o professor, trata-se de um conceito matemático central na economia. "A ‘mais valia’ é quando o patrão se apropria de um valor que deveria estar no bolso do trabalhador. Que valor é esse? O valor que está na mercadoria. Por exemplo: fazer um apagador custa R$ 5 de mão-de-obra e R$ 5 de matéria-prima. Ele é vendido por R$ 15. Então, o que acontece? R$ 5 é lucro. Deveria ir para o bolso do trabalhador. Se o trabalhador ganhar mil apagadores, ele deveria ganhar R$ 5.000. Mas não, ele ganha R$ 800. Então, cadê o resto? Está no bolso do patrão", explica Mazzucco.
Ele afirma que esse conceito pode cair tanto na prova de sociologia ou geografia quando em uma questão de matemática.
Respostas das questões:
Questão 1 - C
Questão 2 - C
Questão 3 - D
Questão 4 - C
Questão 5 - B