sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999)


Nasceu em Recife (PE) em 1920. Ingressou na carreira diplomática aos 25 anos, exercendo sua profissão em diversos países, por mais de quarenta anos. Aposentado, residiu no Rio de Janeiro. A cultura espanhola, que o poeta conheceu a fundo quando viveu em Barcelona e Sevilha, deixou muitas marcas na poesia de João Cabral. O escritor faz parte da Academia Brasileira de Letras desde 1968.

Em 1994, a editora Nova Aguilar publicou em volume único a obra completa do escritor, João Cabral de Melo Neto inaugurou um novo modo de fazer poesia em nossa literatura. A essência de sua atividade poética mostra a tentativa de desvendar os elementos concretos da realidade, que se apresentam como um desafio para a inteligência do poeta. Sempre guiado pela lógica, pelo raciocínio, seus poemas evitam análise e exposição do eu e voltam-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo. Por isso, o prazer estético que sua poesia pode provocar deriva sobretudo de uma leitura racional, analítica, não do envolvimento emocional com o texto.

Essas características levaram a crítica a ver na obra de João Cabral uma "ruptura com o lirismo" ou a considerar sua expressão poética como "antilírica". Não devemos, entretanto, supor que essa relação do poeta com o mundo concreto, objetivo, produza apenas textos descritivos. Na verdade, suas descrições ora acabam adquirindo valor simbólico, ora acabam denunciando a crítica social que o poeta pretende levar a efeito.

Pedra do Sono, seu primeiro livro, apresenta elementos do surrealismo, a começar pelo título (sono). Segundo o próprio poeta, o que se pretendeu nesse livro foi "compor um buquê de imagens em cada poema,- as imagens revelam matéria surrealista no sentido de oníricas, subconscientes... " . O sono e o sonho são temas freqüentes e importantes nessa obra. O próprio autor considera sua primeira obra como "um livro falso", cujo rendimento artístico não o satisfez.

O Engenheiro, embora inclua ainda poemas de caráter surrealista, traz já as bases de sua nova concepção de poesia, segundo a qual o poema deve resultar de uma atitude racionalista, objetiva, diante da realidade concreta. Uma atitude de quem controla racionalmente as emoções.

Psicologia da Composição mostra o amadurecimento daquele conceito de poesia rascunhado no livro anterior. O poeta rejeita - em poemas de caráter metalingüístico - a inspiração e assume, não sem hesitar, a objetividade diante do ato de escrever. Por isso, o livro apresenta poemas com uma linguagem racional, lógica, marcados pelo extremo cuidado formal. Muitas vezes sente-se o poeta questionando a validade do próprio ato de escrever.

Os livros seguintes - O Cão sem Plumas, O Rio e Morte e Vida Severina - mostram um poeta mais diretamente voltado para a temática social, analisando a realidade geográfica, humana e social do Nordeste.

Morte e Vida Severina, sua obra mais conhecida, é um poema narrativo subintitulado auto de Natal pernambucano, que trata da caminhada de um retirante - Severino - do sertão até a zona litorânea, em busca de condições para sobreviver à seca. A semelhança com um auto natalino ocorre no final, quando, ao presenciar o nascimento de uma criança, o retirante renuncia à intenção de matar-se.

Paisagem com figuras traça paralelos entre duas terras que o poeta conhece bem: a Espanha e Pernambuco.

O Auto do Frade tem como assunto o dia da morte do rebelde frei Caneca.

Agrestes é uma coletânea de poemas de temas diversos. Eis um poema desse livro:

O luto no Sertão
Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.
Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.

Obras:
  • Pedra do Sono (1942)
  • O Engenheiro (1945)
  • Psicologia da Composição (1947)
  • O Cão sem Plumas (1950)
  • O Nó (1954)
  • Morte e Vida Severina (1956)
  • Paisagem com Figuras (1956)
  • Uma Faca Só Lâmina (1956)
  • A Educação pela Pedra (1966)
  • Museu de Tudo (1975)
  • Auto do Frade (1984)
  • Agrestes (1985)
  • Crime na Calle Relator (1987)
joao cabral
ESCULTURA DE JOÃO CABRAL NA RUA DA AURORA - RECIFE - PERNAMBUCO

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