Zumbi dos Palmares – Em guerra contra o sistema
Existe uma razão por que a data de morte Zumbi dos Palmares tornou-se o Dia da Consciência Negra. O Brasil teve vários abolicionistas, alguns deles negros, como José do Patrocínio (1853-1905). Mas todos tinham algumas características em comum: eram, brancos ou negros, respeitáveis senhores nas suas elegantes casacas novecentistas, parte do sistema sustentado pela escravidão, e defendiam uma reforma, não uma revolução. Patrocínio até mesmo organizou uma “guarda negra”, formada por ex-escravos, para atacar comícios republicanos. Zumbi não apenas não fazia parte disso como viveu em guerra contra o sistema que sustentou o Brasil colonial e imperial.
Sobrinho do rei Ganga Zumba, Zumbi iniciou uma insurreição contra o tio quando ele tentou um acordo de paz com os portugueses, em 1678. Zumbi não queria viver como um subalterno nas terras dos brancos, se é que eles cumpririam a promessa de não torná-los escravos novamente. O antigo rei foi envenenado por um de seus seguidores, e ele ascendeu ao trono, para passar mais de 20 anos em guerra contra os portugueses. Resistiu até a fatídica tomada do quilombo pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em fevereiro de 1694. O líder escapou e passaria quase dois anos rondando pela floresta com sua tropa, até ser traído e cercado com seus últimos 20 soldados. Sua cabeça foi exposta ao público para desmentir sua fama de imortal – “zumbi” quer dizer “espírito” nas línguas bantu do sul da África.
Palmares era um pedaço da África bantu transplantado para o Brasil. “Em plena escravidão, Zumbi foi líder de uma comunidade livre e que acolhia pessoas perseguidas, como judeus, muçulmanos, mulheres acusadas de bruxaria e índios”, afirma Pedro Paulo Funari, da Unicamp. A população geral dos Palmares pode ter chegado a 30 mil pessoas, em vilas e numa aldeia central fortificada, defendida por armas de fogo. Quem mandava eram os monarcas bantus, mantendo costumes ancestrais. E isso incluía a escravidão: só quem chegava por seus próprios meios, fugido, era considerado livre. Aqueles que fossem capturados em ataques contra fazendas continuavam a ser escravos.
Isso talvez soe chocante, mas seria anacrônico exigir de um líder africano do século 17 que fosse contra a instituição da escravidão. Negros, brancos e índios escravizavam-se mutuamente desde a Pré-História. E, afinal, Palmares continuava a ser um refúgio para os perseguidos. “Com todas as limitações da época, constitui um exemplo de convivência que pode nos inspirar ainda hoje”, afirma Pedro Paulo Funari. E, em todo caso, é recomendável uma leitura cuidadosa da história de Zumbi. Talvez ele pertença mais ao domínio do mito do que da realidade. Tudo o que se sabe sobre ele foi escrito por seus inimigos, e alguns historiadores nem mesmo acham que ele fosse uma pessoa real. Jean Marcel Carvalho França – que participou da eleição, mas não votou em Zumbi – afirma em seu livro Três Vezes Zumbi que o nome provavelmente se referia a um título, o general do quilombo, e não a uma única pessoa. O professor Lincoln Secco, da USP, define Zumbi como uma “figura mítica da resistência ao escravismo”. É assim, com tal sentido mítico, que o grande guerreiro negro deve ser entendido.
Sobrinho do rei Ganga Zumba, Zumbi iniciou uma insurreição contra o tio quando ele tentou um acordo de paz com os portugueses, em 1678. Zumbi não queria viver como um subalterno nas terras dos brancos, se é que eles cumpririam a promessa de não torná-los escravos novamente. O antigo rei foi envenenado por um de seus seguidores, e ele ascendeu ao trono, para passar mais de 20 anos em guerra contra os portugueses. Resistiu até a fatídica tomada do quilombo pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em fevereiro de 1694. O líder escapou e passaria quase dois anos rondando pela floresta com sua tropa, até ser traído e cercado com seus últimos 20 soldados. Sua cabeça foi exposta ao público para desmentir sua fama de imortal – “zumbi” quer dizer “espírito” nas línguas bantu do sul da África.
Palmares era um pedaço da África bantu transplantado para o Brasil. “Em plena escravidão, Zumbi foi líder de uma comunidade livre e que acolhia pessoas perseguidas, como judeus, muçulmanos, mulheres acusadas de bruxaria e índios”, afirma Pedro Paulo Funari, da Unicamp. A população geral dos Palmares pode ter chegado a 30 mil pessoas, em vilas e numa aldeia central fortificada, defendida por armas de fogo. Quem mandava eram os monarcas bantus, mantendo costumes ancestrais. E isso incluía a escravidão: só quem chegava por seus próprios meios, fugido, era considerado livre. Aqueles que fossem capturados em ataques contra fazendas continuavam a ser escravos.
Isso talvez soe chocante, mas seria anacrônico exigir de um líder africano do século 17 que fosse contra a instituição da escravidão. Negros, brancos e índios escravizavam-se mutuamente desde a Pré-História. E, afinal, Palmares continuava a ser um refúgio para os perseguidos. “Com todas as limitações da época, constitui um exemplo de convivência que pode nos inspirar ainda hoje”, afirma Pedro Paulo Funari. E, em todo caso, é recomendável uma leitura cuidadosa da história de Zumbi. Talvez ele pertença mais ao domínio do mito do que da realidade. Tudo o que se sabe sobre ele foi escrito por seus inimigos, e alguns historiadores nem mesmo acham que ele fosse uma pessoa real. Jean Marcel Carvalho França – que participou da eleição, mas não votou em Zumbi – afirma em seu livro Três Vezes Zumbi que o nome provavelmente se referia a um título, o general do quilombo, e não a uma única pessoa. O professor Lincoln Secco, da USP, define Zumbi como uma “figura mítica da resistência ao escravismo”. É assim, com tal sentido mítico, que o grande guerreiro negro deve ser entendido.
Fonte: Aventuras na História
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