Dezembro é mês de alegria para muitas famílias e tensão para outras. Enquanto alguns estudantes planejam suas férias, outros enfrentam o desafio de estudar em dobro: é o caso de quem ficou em recuperação. Se o seu filho está nessa, saiba que, embora o primeiro impulso de muitos pais seja dar broncas, agora é mais produtivo acompanhar os estudos e motivá-lo a se esforçar ao máximo.
Evite fazer ameaças e dizer coisas como: “Por sua culpa a família toda ficará sem viajar”, ou “se for reprovado, será um ano inteiro sem videogame”. De modo algum diga frases que enfraqueçam a sua autoestima, como: “Nunca tirou essa nota, como vai conseguir agora?”, ou “seu irmão passou direto, e veja só você”.
Não adianta descontar nele o seu desapontamento, o estudante já está fragilizado. Ninguém está mais aborrecido do que ele, pois a maioria dos colegas vai se divertir, enquanto ele corre o risco de perder um ano. Por isso, dê apoio, mostre confiança e deixe claro que ele tem um aliado para superar o problema.
O que você pode fazer? Se o seu filho é criança, ajude-o a organizar a agenda de estudos; procure os professores para receber orientações; suspenda temporariamente as atividades extras; acompanhe a realização das tarefas.
No caso de adolescentes, é preciso limitar os horários de TV e games, a duração dos papos pelo telefone, as saídas com amigos, o namoro, as redes sociais. Explique que não se trata de um castigo, mas de colocar o foco no objetivo deste momento. Isso será um aprendizado e tanto para outras etapas da vida.
Considere a possibilidade de contar com um professor particular. Não é algo que os educadores gostem de recomendar, pois, em geral, os alunos recebem ao longo dos meses, na própria escola, toda a orientação necessária para aprender. Contratar professores a esta altura, com o estudante “pendurado”, pode reforçar uma visão de que os pais sempre “dão um jeito” para livrá-lo dos problemas.
Porém, pode haver uma dificuldade específica de aprendizagem. Observa-se naquele caso do aluno que estuda, se esforça e, ainda assim, não vai bem. Uma ajuda pontual, nestas circunstâncias, pode ser positiva. Se a família não tiver condições de arcar com o custo das aulas, pode criar um grupo de estudos. Às vezes, a matéria explicada por um amigo fica até mais fácil de entender.
Passada a recuperação, é momento de refletir sobre o papel dos três implicados: o aluno, a família e a escola. No processo de aprendizagem, eles precisam trabalhar em sinergia e tanto a aprovação como o insucesso têm uma parcela de cada um.
No caso do estudante, os pais precisam conversar para saber o que houve. Os motivos foram ligados à atitude pessoal, como falta de estudo, brincadeira em excesso, desorganização? O problema ocorreu em várias matérias, ou numa em especial? Como pensa evitar isso no futuro?
A família também precisa se questionar. A recuperação foi uma surpresa, ou já estavam prevendo? O mau desempenho vai sendo construído aos poucos, não é algo que se descobre de repente. Pode ser que os pais não estejam acompanhando os estudos. E pode haver outras coisas implicadas, como problemas de relacionamento na turma, conflitos familiares, algum distúrbio de aprendizagem, ou outro problema que a família ainda desconheça.
Por fim, cabe um questionamento à escola. Quando um aluno não aprende no tempo previsto, o colégio deve refletir se cuidou de cada um, de forma personalizada. Não adianta andar com a matéria se um grupo não aprendeu.
Além disso, a escola precisa verificar se há muitos alunos na mesma situação. Será que o nível de exigência está alto demais para a idade? O método das aulas funciona? Há algum problema com a turma – por exemplo, o “grupinho da bagunça” impede os outros de aprender, ou há um conflito entre os estudantes?
Vale lembrar que a recuperação do final de ano não resolve tudo. O que funciona é a recuperação paralela, com classes de reforço, ou atividades na própria aula. Esse método é bem mais eficaz, pois resolve as lacunas de aprendizagem ao longo do ano. Por isso, é adotado pelas melhores escolas. Afinal, o objetivo da educação não é “passar de ano”; o que importa mesmo é garantir que todos os estudantes aprendam de verdade.
Fonte: g1