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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O que são gatilhos emocionais tão citados no BBB e como lidar com eles


 

O termo gatilho emocional já está popularizado nas redes sociais e nas últimas semanas esse termo tem se popularizado por causa do Big Brother Brasil, o BBB, Reality Show da Rede Globo.
Você provavelmente já leu ou ouviu algo nessa linha. Mas você sabe o que é isso?

 

 

“Alertas de gatilho” antecipam conteúdos sensíveis que podem provocar emoções negativas no leitor. Comentários do tipo “essa fala me deu gatilho” – ou mesmo ironias sobre a banalização da expressão também são frequentes.

Porém, mais do que moda nas redes sociais, esse é um assunto sério para observarmos no dia a dia.

Todas as pessoas têm gatilhos emocionais, e reconhecer os seus é um exercício de autoconhecimento. Aprender a lidar com eles é importante para a qualidade dos relacionamentos pessoais e profissionais – e, claro, para a própria saúde mental.

Aqui, vale antecipar uma boa notícia: os gatilhos emocionais também podem ser positivos.

Priorizar o equilíbrio emocional é uma das suas metas?
Então este artigo pode te ajudar.

 

O QUE SÃO GATILHOS EMOCIONAIS?

 

Gatilhos emocionais são situações ou acontecimentos que acionam ou disparam determinado tipo de emoção, memória ou trauma. Uma palavra, um cheiro, uma música, um tom de voz podem ativar sentimentos muitas vezes represados.

Essas emoções ativadas, por sua vez, podem provocar reações físicas, como tremores, falta de ar, lágrimas ou sorrisos – ou comportamentos impensados: de respostas ríspidas a gritos ou mesmo uma agressão.

 

Embora a psicologia entenda que existam gatilhos e emoções universais, é fundamental reconhecer os gatilhos particulares, desenvolvidos ao longo da história de vida de cada um.

 

Um exemplo de gatilho universal é quando um carro vindo rápido na sua direção desperta medo e aciona a reação de desvio ou fuga. Um gatilho particular seria uma pessoa que passou por alguma situação de trauma envolvendo acidente de trânsito ter sintomas de ansiedade ou pânico ao passar por uma estrada, ver um carro da mesma cor ou mesmo pensar em uma viagem.

 

ENTENDA OS GATILHOS QUE ACIONAM SUAS EMOÇÕES

 

As reações desencadeadas pelos gatilhos emocionais dependem de três componentes básicos:

  1. A pré-condição emocional (se a pessoa está cansada, triste ou preocupada por outros motivos)
  2. A base de dados emocionais da pessoa (seu histórico de vida e o quanto já elaborou fatos passados)
  3. O evento do gatilho em si

 

Comportamentos movidos por gatilhos emocionais podem acontecer até no ambiente de trabalho. Uma avaliação negativa ou mesmo uma brincadeira de um colega às vezes pode despertar emoções negativas. A depender do tom, da palavra ou mesmo do olhar, pode ativar memórias e sentimentos de infância ligadas à reprovação dos pais ou bullying na escola.

O resultado, se a pessoa não tiver consciência sobre esses gatilhos ou se estiver acumulando outras questões, pode ser uma reação explosiva, vontade de chorar, de pedir demissão etc.

 

Mas tranquilize-se. Embora não seja possível escapar de todas as situações de gatilho o tempo todo, existem formas de controlar nossas reações.

 

COMO LIDAR COM OS GATILHOS EMOCIONAIS

 

Entender as situações que provocam determinadas reações é um exercício de autoconhecimento constante.

Confira algumas dicas que ajudarão nesse processo:

 

Reflita sobre o que aconteceu

Percebeu que alguma situação te fez reagir de forma exacerbada? Tente voltar atrás e entender: como você estava antes? O que você sentiu fisicamente? Qual foi a situação do gatilho? Já havia sentido algo assim antes?

Responder essas questões, anotar e conversar com alguém sobre isso são formas de elaborar a situação psiquicamente e criar ferramentas emocionais para responder melhor em situações futuras.

Preze pelo seu bem-estar

Praticar atividades físicas, cuidar da alimentação, dormir bem e ter momentos de lazer ajuda a dar boas condições emocionais para as situações imprevistas.

Acione gatilhos positivos

Ouvir uma música animada, sentir um aroma que remete a boas memórias de infância, telefonar para um amigo, fazer uma atividade prazerosa ajuda a tirar o foco de uma emoção ruim.

Reconheça limites e fragilidades

Se estiver estressado por algum motivo, ou não tiver dormido bem, por exemplo, evite situações-gatilho, como uma reunião tensa, um filme triste, ou um lugar associado a um trauma. Se não for possível evitar, faça uma preparação com meditações ou peça que alguém da sua confiança o acompanhe.

Faça terapia

Elaborar todo o histórico emocional de vida não é uma tarefa simples de se fazer sozinho. Uma ajuda profissional é sempre bem-vinda.

 

As emoções fazem parte da vida e movem muitos dos nossos comportamentos. O objetivo não é abdicar delas, mas sim se conhecer melhor.

 

Você sabia? Expectativas irreais e a comparação demasiada com outras pessoas também podem acionar gatilhos que levam à autodepreciação. Sobre isso, leia: Autoestima na era das redes sociais

 

Fontes: SBIE | Instituto de Pesquisa Albert Einstein | Paul Ekman - A linguagem das Emoções

 


Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil

 

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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O governo não quer que você tenha painéis solares em casa

Trabalhador instala painel solar na Alemanha (Foto: Sean Gallup/Getty Images)
Trabalhador instala painel solar na Alemanha (Foto: Sean Gallup/Getty Images)
Pense num país quente, onde o sol brilha o ano inteiro e que, um belo dia, dá-se conta de que tem justamente nessa luminosidade uma fonte de energia limpa, inesgotável e cada vez mais barata. Mesmo possuindo grandes reservas de petróleo, esse país resolve apostar pesado na energia solar, que ignorou solenemente durante anos. Já adivinhou que país é esse? Isso mesmo: bem-vindo à Arábia Saudita.

Sim, a Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, símbolo da resistência atávica a qualquer coisa que tenha relação com energias renováveis; sim, a Arábia Saudita, o vilão das conferências do clima da ONU; a petroditadura feudal e retrógrada. Pois essa mesma Arábia Saudita planeja instalar 6 gigawatts de energia solar fotovoltaica nos próximos cinco anos. É o equivalente à potência instalada das duas usinas do rio Madeira. Em 2032, os sauditas planejam ter em seu deserto e em suas casas o equivalente a mais de uma Itaipu em energia solar.

E o Brasil? Temos um território maior e muito mais horas de sol o ano inteiro do que a Arábia Saudita. Nosso potencial de radiação solar equivale a 20 vezes toda a atual capacidade instalada de produção de energia elétrica. No entanto, os planos do governo até agora para essa fonte são modestíssimos: 2 gigawatts instalados até 2023, ou um terço do que os árabes planejam instalar em cinco anos.

É difícil atribuir esse atraso brasileiro a quaisquer outros fatores que não sejam miopia dos planejadores energéticos e preconceito. Este último fator vem de cima para baixo: a própria presidente Dilma Rousseff já se referiu à energia fotovoltaica como “fantasia”, dizendo em 2012 que não era possível iluminar um país somente com sol e vento. A China discorda: nos próximos 15 anos, o gigante terá elevado sua capacidade fotovoltaica para 100 gigawatts, o equivalente a quase dois terços de todo o parque gerador do Brasil.

Neste aspecto, a ex-guerrilheira Dilma tem um pensamento surpreendentemente próximo do dos eletrocratas formados na escola das grandes obras de energia da ditadura. Para essa turma, investir em uma nova tecnologia que custava caro era uma burrice, quando o país tinha tanto potencial hidrelétrico ainda a aproveitar na Amazônia (que grande parte desse potencial esteja em unidades de conservação, terras indígenas e outras áreas sensíveis nunca foi um impeditivo, como não era no tempo dos militares). O resultado disso está todo mês na nossa conta de energia: quando as chuvas faltaram para as hidrelétricas, o governo botou na matriz térmicas a gás, carvão e óleo combustível – mesmo tendo prometido recentemente que o carvão seria banido do Brasil.

O governo brasileiro não foi o único a desprezar a energia solar. Nos EUA, durante a administração de George W. Bush, o lobby fóssil impediu que incentivos fossem dados a energias renováveis para competir com as já estabelecidas e mimadas fontes fósseis. Como resultado, a principal fábrica americana de painéis solares, a First Solar, precisou se mudar para a Alemanha.

A partir de 2008, com a eleição de Barack Obama e um novo foco em fontes renováveis, o cenário começou a clarear para a energia fotovoltaica. A indústria respondeu rapidamente: a capacidade instalada subiu de quase zero em 2006 para 20 gigawatts em 2014 e hoje 36% das novas instalações elétricas nos EUA são dessa fonte; o preço de um painel fotovoltaico caiu 63% somente entre 2010 e 2014, e a indústria solar americana, que antes gerava empregos de qualidade na Alemanha, hoje emprega mais gente nos EUA que a mineração de carvão. Outros países, como a Espanha e a Grécia, também investiram nessa indústria como uma saída para a crise econômica.

No ensolarado Brasil, a primeira medida séria de incentivo à energia fotovoltaica só foi adotada em 2012: uma resolução da Aneel que permite a quem tiver painéis solares em sua casa trocar energia com a rede – e, assim, economizar até 80% da conta de luz por mês, ao produzir a própria eletricidade durante o dia. A resolução, porém, não veio acompanhada de nenhuma outra medida, como uma campanha ou incentivos tributários (dados à indústria automobilística e aos combustíveis fósseis). O resultado é que, quase três anos depois, apenas 409 residências instalaram painéis solares em todo o país. Nos EUA, são 400 mil. A cada três minutos uma nova instalação solar é feita.

Quando enfim a energia solar elétrica foi agraciada com o direito de competir em leilões de energia, em 2014, o governo viu o tamanho da oferta reprimida: foi o leilão mais competitivo da história, com o megawatt vendido a R$ 214. Parece caro? Pois o carvão mineral, que fez seu retorno triunfal à matriz energética brasileira também em 2014, foi leiloado a R$ 206. E isso à custa de um pacote de bondades que incluiu aumento no preço mínimo e isenção de tributos.

Sem o argumento do preço, sobra aos eletrocratas o tigre de papel da intermitência: a energia solar jamais poderá estar na “base” porque não produz à noite. O chamado fator de capacidade da fonte é de cerca de 25%. Pode até ser verdade. Mas esses mesmos planejadores não hesitam em gastar R$ 28 bilhões numa usina hidrelétrica como Belo Monte, que tem fator de capacidade de 42% e que pode chegar ao fim de sua vida útil com metade disso devido ao impacto das mudanças climáticas. Se ganhasse o direito de entrar na matriz em escala americana (ou pelo menos saudita), a energia solar poderia compor com a eólica para poupar os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Sul, que formam a nossa “energia firme”. A opção do Palácio do Planalto, porém, parece ser até aqui a de deixar o país sem energia e poluindo mais ao mesmo tempo.

Fonte: Época

terça-feira, 29 de maio de 2018

Artigo: A greve dos caminhoneiros e o Brasil 100% renovável e sem combustíveis fósseis

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A greve dos caminhoneiros e o aquecimento global são dois alertas para o Brasil levar a sério o cenário do fim do uso generalizado dos combustíveis fósseis e acordar para a necessidade de planejar a construção de um futuro energético 100% renovável.


Num momento em que o país tem 27,7 milhões de pessoas desocupadas ou desalentadas e uma renda per capita menor do que a de 2013, a população empobrecida não aguenta o alto preço das passagens e dos fretes, nem os efeitos generalizados do alto preço da gasolina, do gás e do diesel. A energia barata é essencial para o aumento da qualidade de vida, mas qualquer solução requer uma análise de custo e benefício. O incremento do preço dos combustíveis sempre está associado com o aumento das revoltas e dos protestos. O alto preço da energia leva à carestia.
gasolina vendida no Brasil é a segunda mais cara do mundo

Mas não se trata simplesmente de diminuir o preço dos combustíveis fósseis. O Brasil assinou o Acordo de Paris, em 2015, prometendo reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). Porém, as emissões brasileiras de carbono estão aumentando e, no quadro da realidade climática internacional, o mundo caminha para uma situação catastrófica com a elevação da temperatura global do Planeta. Matéria publicada no Ecodebate (24/05/2018) apresenta uma análise feita por uma equipe de cientistas da China que mostra que o clima da Terra pode aumentar em 4°C, comparado aos níveis pré-industriais, antes do final do século XXI. Isto traria um quadro ambiental apocalíptico, que afetaria completamente a vida humana e não humana no mundo e no Brasil.

Assim, qualquer política energética tem que pensar o local e o global. Estamos a quatro meses das eleições presidenciais de 2018 e nenhum candidato até agora apresentou um plano minimamente coerente e ousado para o Brasil fazer sua parte na superação da era dos combustíveis fósseis e para avançar na construção de uma matriz energética a partir da articulação das fontes vindas do sol, do vento e da água. O Brasil está atrasado no aumento da capacidade instalada de energias eólica e, principalmente, solar. Está muito atrasado também no planejamento do futuro renovável.

Um mundo 100% renovável até 2050 é tecnicamente possível. Uma equipe de pesquisadores, liderada pelo engenheiro ambiental da Universidade de Stanford, Mark Jacobson, lançou um roteiro para que 139 países possam alcançar a meta de 100% de energias renováveis até meados do século. O plano leva em consideração as circunstâncias únicas de cada um dos países, que, no conjunto, representam 99% das emissões mundiais de dióxido de carbono. Para desenvolver o roteiro, os pesquisadores primeiro analisaram cada país e analisaram a quantidade de recursos de energia renovável bruta que cada um produz e determinaram o número de geradores de energia eólica, água e energia solar necessários para que esse país alcance 80% de dependência de energia renovável até 2030 e 100% até 2050 (Trata-se do enfoque “vento, água, e solar”, ou WWS na sigla em inglês).

Para Jacobson, além de eliminar as emissões e evitar o aquecimento global superior a 1,5º graus Celsius, a transição eliminaria 4 a 7 milhões de mortes por poluição atmosférica a cada ano e criaria mais de 24 milhões de empregos no longo prazo. Para o autor, a novidade do estudo é que examina não só os benefícios climáticos da redução de carbono, mas também os benefícios da redução da poluição do ar e os benefícios na geração de trabalho decente. O mundo poderia economizar mais de US$ 20 trilhões em custos de saúde e clima a cada ano. Como cada um desses 139 países tem as suas próprias peculiaridades, os caminhos para 100% de energia renovável são únicos também. O potencial de geração de empregos verdes é enorme (Ver Alves 26/03/2014 e 30/10/2017).

Neste ano eleitoral, o Brasil deveria discutir o seu plano de médio e longo prazo para abandonar os combustíveis fósseis e transformar a matriz energética, das fontes fósseis e centralizadas para as fontes renováveis, descentralizadas e democráticas, fortalecendo a figura do PROSSUMIDOR (consumidor + produtor) e contribuindo para a geração de empregos decentes. Todavia, no Brasil, existe ainda uma mitificação dos “poderes milagrosos” do petróleo e da “empresa mãe”. Em vez de olhar para o futuro, o Brasil fica preso a um combustível e a uma tecnologia do passado, enquanto a Petrobras se afunda em meio às disputas corporativistas e politiqueiras.

As forças que apoiam o governo Temer acusam a presidenta Dilma e o Partido dos Trabalhadores de terem manipulado e congelado o preço dos combustíveis, de terem endividado a Petrobras, feito investimentos sem possibilidade de retorno financeiro, usado a empresa com fins eleitoreiros e terem instalado um amplo esquema de corrupção na empresa. Dão como exemplo de corrupção e ineficiência da companhia em diversos fatos, como a compra da refinaria de Pasadena no Texas, o mal planejamento das refinarias Premium I e Premium II, de Bacabeira (MA) e São Gonçalo do Amarante (CE), que foram abandonadas com grande prejuízo para o país, a refinaria Abreu e Lima, em Suape (PE), que foi planejada com um custo de US$ 2,3 bilhões, teve seu orçamento revisado para US$ 20,1 bilhões e, mesmo sendo a refinaria mais cara do mundo, não está pronta para pleno funcionamento, além do fracasso completo do alto custo inútil do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí.

Em contraponto, as forças neodesenvolvimentistas que criticam o governo Temer dizem que o esquema de corrupção da Petrobras é muito antigo e que a atual gestão da empresa não vê o “uso social da propriedade estatal” e que a política de aumento dos preços dos combustíveis está preocupada apenas com a lucratividade dos acionistas e com a venda de ativos visando a privatização total da empresa, numa atitude entreguista que não vê o petróleo como fonte de recursos para financiar o desenvolvimento industrial, educacional e cultural brasileiro.

Em vários pontos, os dois lados têm razão. Como diz o ditado: “Em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão”. Uns querem o petróleo para fortalecer o mercado e a lucratividade dos detentores do capital. Outros querem o petróleo para fortalecer o Estado e os privilégios corporativos e políticos, em nome de subsidiar o desenvolvimento nacional. O fato é que a Petrobras tem sido um joguete nas mãos de forças políticas com interesses opostos, mas com uma prática comum de manter a ineficiência na gestão e a permanente dependência brasileira aos combustíveis fósseis. Quem paga a conta é o povo brasileiro.

O Brasil tem a segunda gasolina mais cara do mundo. Com a queda do preço internacional do petróleo a população e os agentes econômicos conseguiram suportar a alta carga do preço da energia. Mas a desvalorização cambial e o aumento do preço internacional do petróleo ocorrida nos últimos dois meses foram a “gota d’água” para o gatilho da inflação energética. As pessoas começaram a perceber que o custo da política energética brasileira é muito elevado. Todos os cidadãos se perguntam: onde estão os benefícios do pré-sal?

Na verdade, a economia brasileira não apresentou melhoras desde que as jazidas abissais de hidrocarbonetos foram descobertas e começaram a ser exploradas. Ao contrário, a década de 2011 a 2020 será a segunda década perdida da economia brasileira. O PIB brasileiro cresce muito menos do que o PIB mundial e o Brasil tem ficado atrás não só das economias avançadas e dos países emergentes da Ásia, mas também fica atrás dos países da África e dos demais países da América Latina. O PRÉ-SAL se revelou um passaporte para o FUTURO DO PRETÉRITO.

Evidentemente, o passaporte para o futuro tem que ser renovável. O bilhete premiado não vem das profundezas salgadas do pré-sal, mas sim do sol, do vento e da água, elementos que o Brasil tem de sobra, mas não está sabendo aproveitar. Por exemplo, o Chile – que é uma economia muito menor do que a brasileira – tem uma capacidade instalada de energia solar superior à brasileira. Enquanto o mundo aumentou a capacidade instalada de energia solar em quase 100 GW em 2017, o Brasil não contribuiu nem com 1% deste total.

O gráfico abaixo mostra que a capacidade instalada de energia solar global em 2017 foi maior do que a do conjunto dos combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo). As estimativas para os próximos anos mostram o predomínio das energias renováveis.

a energia solar global cresceu mais rápido do que os combustíveis fósseis em 2017

Além do aumento da capacidade instalada de energias renováveis, o mundo está passando por uma revolução na indústria automotiva, com a transição dos carros de motor de combustão interna para os carros elétricos. A indústria automobilística não está passando simplesmente por uma época de mudanças, mas sim por uma mudança de época. A mudança da época do motor à combustão interna, com base nos combustíveis fósseis para a época dos carros elétricos, com base na energia renovável.

O crescimento do mercado de carros elétrico tem sido bastante significativo. Em 2016, houve um aumento de 750 mil veículos e o número de carros elétricos no mundo em circulação ultrapassou o limiar de 2 milhões de unidades. O gráfico abaixo mostra alguns cenários de crescimento do mercado de carros elétricos. Em qualquer alternativa o avanço deve ser expressivo, podendo o estoque chegar a 60 milhões no mínimo ou até 200 milhões em 2030. De acordo com a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), pelo menos um terço de todos os veículos vendidos no mundo, até 2030, serão elétricos.

cenários estimados do estoque global de carros elétricos até 2030

A Noruega é o país mais avançado na transição para o uso de carros elétricos, pois, segundo a Bloomberg, mais de um terço de todos os carros novos são totalmente elétricos ou híbridos plug-in, mais de 10 vezes a proporção nos EUA. Até 2025, o governo norueguês planeja eliminar a venda de carros a gasolina ou a diesel, só elétricos. A fabricante sueca Volvo anunciou, em julho de 2017, que vai encerrar a produção de carros a motor de combustão a partir de 2019. Todos os carros lançados a partir de 2019 terão um motor elétrico, marcando um “fim histórico” para o motor de combustão interna. Na mesma semana em que a Volvo anunciou sua decisão, o governo da França disse que vai encerrar as vendas de veículos a gasolina e diesel até 2040. Mas a dianteira na produção de carros elétricos pertence à China, que pretende liderar a produção e as inovações no mercado dos carros elétricos. A cidade de Shenzhen, megalópole do sul da China, anunciou no final do ano passado que eliminou todos os ônibus movidos a diesel e apresentou uma frota de 16.359 ônibus elétricos, mostrando que já é possível ter uma frota de ônibus 100% eletrificada. O próximo passo seria uma frota de ônibus e caminhões elétricos e autônomos.

Enquanto o mundo avança, o Brasil continua totalmente dependente dos combustíveis fósseis e fica exposto à poluição, aos altos custos da gasolina e do diesel. Fica também permanentemente exposto à chantagem das empresas de transporte. Sem querer entrar no mérito do evento, a greve dos caminhoneiros – que, além da paralisação do transporte, inclui o bloqueio de refinarias e distribuidoras – está mostrando como o Brasil é refém de uma política energética equivocada. Depois de quatro dias de greve, mais de 400 bloqueios de estradas em 23 estados e no Distrito Federal, o país começa a ter desabastecimento generalizado de gasolina nos postos, voos cancelados por falta de combustível, ônibus fora de circulação, linhas de montagem paralisadas, desabastecimento e alta no preço de alimentos e hortaliças, etc.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, que tinha uma pose de executivo independente, teve que engolir a redução no preço do diesel e não se mostrou à altura dos desafios na área. O senador Cássio Cunha Lima e o deputado Paulinho da Força pediram a cabeça de Parente. As ações da Petrobras caíram e as perspectivas para a economia brasileira pioraram. Já se fala até na queda do presidente Michel Temer e a eleição indireta de um presidente tampão para cumprir o mandato até o final do ano. De modo geral, desde o apagão de 2001, os sucessivos governos brasileiros tem sido vítimas de suas próprias incompetências e inépcias energéticas.

No meio de tantas incertezas, existem duas coisas certas: a primeira é que o Brasil vai ter alguns meses de muita confusão e imprevisibilidade até um novo governo assumir o mandato para o quadriênio 2019-2022; a segunda, é que o país precisa ter um plano para abandonar a dependência dos combustíveis fósseis, democratizar e universalizar o uso de uma energia eficiente e mais limpa e se preparar para um futuro 100% renovável.

Referências:

  1. ALVES, JED. Roteiro para 139 países alcançarem 100% de energias renováveis ??até 2050, Ecodebate, 30/10/2017 https://www.ecodebate.com.br/2017/10/30/roteiro-para-139-paises-alcancarem-100-de-energias-renovaveis-ate-2050-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
  2. ALVES, JED. 100% Energia Renovável. Ecodebate, 26/03/2014 http://www.ecodebate.com.br/2014/03/26/100-energia-renovavel-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
  3. ECODEBATE. Mudanças Climáticas: Em nova análise, cientistas projetam um aquecimento global de quatro graus até 2084, Redação: 24/05/2018 https://www.ecodebate.com.br/2018/05/24/mudancas-climaticas-em-nova-analise-cientistas-projetam-um-aquecimento-global-de-quatro-graus-ate-2084/
  4. ECODEBATE. Podemos obter 100% da nossa energia a partir de fontes renováveis? Sim, dizem cientistas internacionais em novo artigo. Redação: 22/05/2018 https://www.ecodebate.com.br/2018/05/22/podemos-obter-100-da-nossa-energia-a-partir-de-fontes-renovaveis-sim-dizem-cientistas-internacionais-em-novo-artigo/
  5. Simon Evans. Global solar capacity grew faster than fossil fuels in 2017. Skeptical Science, 17/05/2018 https://skepticalscience.com/solar-faster-fossil-fuels-2017.html
  6. Lulu Xue and Weimin Zhou. How Did Shenzhen, China Build World’s Largest Electric Bus Fleet? WRI, April 04, 2018 http://www.wri.org/blog/2018/04/how-did-shenzhen-china-build-world-s-largest-electric-bus-fleet




José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/05/2018

"A greve dos caminhoneiros e o Brasil 100% renovável e sem combustíveis fósseis, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/05/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/05/25/a-greve-dos-caminhoneiros-e-o-brasil-100-renovavel-e-sem-combustiveis-fosseis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

Fonte: EcoDebate

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A morte de Juma e o legado do Brasil para os Jogos Olímpicos

morte de Juma, a onça que participou da cerimônia com a Tocha Olímpica, em Manaus, nessa segunda-feira, levanta grandes problemas, que, infelizmente, são comuns no Brasil.
O primeiro deles é a falta de consideração de que a onça é um animal selvagem e deveria ter o direito de viver em seu habitat respeitado. Acontece que isso não é garantido porque a onça necessita de extensas áreas para sobreviver, onde ela caça espécies como capivaras e jacarés. Esses locais, hoje, no Brasil são áreas de preservação, já que tanto a Amazônia quanto o Pantanal e o Cerrado são regiões ameaçadas pelo desmatamento, como parte da ação da expansão agropecuária
No caso de animais resgatados, como Juma, a situação é ainda mais delicada, pois o animal foi retirado de seu ambiente natural. Juma foi encontrada com muito ferimentos após a sua mãe ter sido morta. É comum o Exército brasileiro, na região amazônica, resgatar animais selvagens e cuidar deles em suas bases. É aí que entra outra questão importante a ser discutida: qual é a prerrogativa que uma base do Exército tem para manter animais sob ameaça de extinção e que exigem cuidados específicos? Como esses animais são tratados? O Exército mantém várias onças em cativeiro, "adotadas" pelo órgão quando encontrados após serem vítimas de caçadores ou em cativeiros.
Não bastasse todo esse drama enfrentado por animais como Juma, outro ponto questionável é fazer da onça (um animal declarado, em 2013, pelo Ibama com perigo de extinção) o mascote do Exército, passando por sessões de "treinamento", condenadas por biólogos e veterinários, para ser exposta em desfiles militares.

Explicação do Exército

Em nota, o Comando Militar da Amazônia (CMA) explica que Juma teria escapado do zoológico do Exército após a cerimônia olímpica. Um grupo de veterinários e militares tentou recapturá-la, mas o animal teria avançado sobre um soldado mesmo sob o efeito de tranquilizantes. "Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer", diz o órgão.
Segundo o site Amazônia Real, dois militares seguravam a corrente presa a Juma durante todo o evento, no qual muitas pessoas tiraram fotos com ela. A onça teria fugido logo após a exibição, possivelmente estressada, quando militares colocaram-na em uma caminhonete. A morte de Juma e todo o desconforto causado ao animal são agravados pelo fato de o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam) não ter autorizado a participação de Juma no evento, o que poderá acarretar multa à corporação.

Animal silvestre

O biólogo com mestrado em comportamento animal pela Universidade de Brasília Para João Paulo Castro diz que Juma pode ter fugido após sofrer umgrande estresse durante o evento. "Não é saudável nem recomendável submeter um animal a uma situação como essas, com barulho e muitas pessoas em volta", disse ele à BBC Brasil. "Muitas vezes a onça já vive numa situação precária e estressante no cativeiro, o que é agravado num cenário de agitação".
O biólogo diz ainda que é um erro tratar onças como animais domesticáveis, pois é preciso que vivam muitas gerações em cativeiro para que uma espécie seja habituada a conviver com humanos. Como era de se deduzir, até por um leigo, Castro afirma que o ideal é que as onças recuperadas sejam devolvidas à natureza ou levadas a refúgios, locais onde há grandes espaços para elas viverem, embora a soltura de felinos seja um processo complexo.
Há relatos de que os animais resgatados pelo Exército são bem tratados e de que a corporação realiza a função de outros órgãos. Por isso, é necessário averiguar bem o que aconteceu de fato.
Entretanto, esse triste episódio levanta questões importantes, como a destruição de ambientes naturais onde vivem os animais da nossa fauna, provocada por ações como o desmatamento; o desvio de função operado pelo Exército, ao cuidar de animais que deveriam ter um processo de recuperação assistido por profissionais e por órgão competente em protegê-los; e a mentalidade de que é bonito expor animais selvagens como se estivessem no picadeiro de um circo.
Por isso tudo, um abaixo-assinado foi criado na internet para pedir a punição dos responsáveis pela morte de Juma.
Emblemática a morte de um animal representativo da fauna brasileira ser um dos legados que o país deixa para os Jogos Olímpicos.

Fonte: 
Escrito por Gisella Meneguelli

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Artigo: Crise na Saúde Pública


Artigo publicado na Revista Jurídica Consulex. Por Ricardo C. V. Madeiro

A Constituição Federal de 1988 põe a vida como sendo o bem maior dos direitos fundamentais, preceituando em seu art. 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Enquanto Constituição Cidadã, previu em seu art. 198, III, a participação popular como sendo uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Entretanto, em que pesem os louváveis diplomas legais criados para garantir e viabilizar a efetivação do direito à saúde no Brasil, enquanto direito fundamental de todos e dever do Estado, é observada atualmente pela sociedade a decadência da saúde pública em todos os estados brasileiros e o consequente sucateamento do SUS, assistido na mais completa inércia ao longo dos anos pelos sucessivos governos brasileiros.

A crise na saúde pública do Brasil deve ser considerada sob três aspectos básicos, quais sejam, a deficiência na estrutura física, a falta de disponibilidade de material-equipamento-medicamentos e a carência de recursos humanos.

As condições das estruturas físicas das Unidades Básicas de Saúde e dos hospitais são lastimáveis, pois as mesmas se encontram sem manutenção preventiva e/ou corretiva, funcionando muitas vezes em prédios improvisados e inadequados, com instalações elétricas, sanitárias e hidráulicas precárias, pondo inclusive em risco de morte, aqueles que lá frequentam.

As péssimas condições de atendimento à população na Atenção Primária de Saúde, porta de entrada do SUS, também é retratada pela falta de equipamentos médicos, mobílias, exame laboratoriais e até mesmo de medicamentos básicos para diabetes, hipertensão, vermífugos ou antibióticos.

A dificuldade no acesso e a ineficácia dos serviços prestados na Atenção Primária têm contribuído cada vez mais para a superlotação dos hospitais públicos, onde milhares de brasileiros padecem nas filas, mendigando por uma simples consulta, um exame diagnóstico ou uma cirurgia eletiva. A deficiência no número de leitos obriga os pacientes, na maioria das vezes, a passarem semanas acomodados no chão, em colchões ou em macas, largados nos corredores ou na recepção dos hospitais, à espera de um leito de enfermaria ou de UTI. Tal situação fere não só a dignidade do povo, mas também dos profissionais de saúde que são obrigados a conviverem diariamente com cenas tão fortes. A precariedade dessa situação fática leva ao retardo no diagnóstico de doenças e, consequentemente, uma piora em muitos prognósticos, podendo ocasionar em alguns casos, a própria morte, antes mesmo do atendimento.

Na área dos recursos humanos, tome-se como exemplo o Município de Fortaleza, uma das maiores capitais do Brasil, sede da copa em 2014, que em recente visita realizada pela Comissão de Saúde da OAB-CE, acompanhada pelo Ministério Público Estadual, Conselhos Estadual e Municipal de Saúde e os representantes de todos os Conselhos Regionais da área de saúde, foi constatada que cerca de 60% de todos os profissionais da área da saúde são contratados com vínculo precário de trabalho através de empresas terceirizadas ou cooperativas, em total afronta à Constituição, que exige a aprovação prévia em concursos públicos para a investidura em cargo ou emprego público, ressaltando-se que a carência de médicos no SUS, se dá principalmente, pela falta de concursos públicos. O Governo Brasileiro deliberadamente vem substituindo os Concursos Públicos por contratações via ONG, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), Cooperativas de Serviços ou a EBSERH, empresa pública dotada de personalidade jurídica de direito privado, o que certamente constitui-se também em retrocesso político.

O número de equipes de Estratégias de Saúde da Família (ESF), antigo PSF, também se revelou insuficientes, atendendo apenas a 40% da demanda. Tudo em desacordo com a Portaria Ministerial Nº 2488/GM de 21/10/2011.

Impõe-se ainda lembrar, que na periferia das grandes cidades, a ausência de segurança quando da realização das visitas aos moradores em área de risco, acaba por muitas vezes, inviabilizando o trabalho domiciliar das equipes de ESF.

Diante do clamor público do último mês, aonde o povo manifestou sua revolta ante o descaso em vários setores que envolvem direitos fundamentais, o Governo Brasileiro, no apagar das luzes dessa gestão, fazendo ouvidos moucos às vozes dos que fazem o Controle Social, anunciou o que denominou de "Pacto Nacional Pela Saúde Pública", numa aparente tentativa de imputar à categoria médica, a responsabilidade pela caótica situação em que se encontra a saúde pública no Brasil. Referido Pacto, ao que demonstra, parece mais um projeto desenvolvido para uma campanha eleitoral do que propriamente para solucionar ou pelo menos minimizar os graves problemas na saúde, vivenciado por esta gestão.

A questão da importação de médicos estrangeiros sem revalidação de diploma representa verdadeira ofensa à Constituição, seja em relação ao seu artigo 5º, XIII que dispõe acerca das limitações para o exercício das profissões regulamentadas, cujas atividades para serem exercidas têm que obedecer à legislação específica de cada caso, o que implica aí na obrigatoriedade, além da formação acadêmica, do registro do diploma no respectivo Conselho ou Órgão Fiscalizador da Profissão, seja em relação a exigência do seu artigo 37, II, no qual aduz sobre a aprovação prévia em concurso público para a investidura em cargo ou emprego público.

É através desse processo de revalidação que resta reconhecido se os diplomas de cursos de graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros são equivalentes aos diplomas emitidos no Brasil, garantia essa necessária para atestar a segurança e a qualidade da assistência à saúde. Ademais, garante o Governo que a autorização concedida a estes médicos diplomados no exterior, sem o revalida, será restrita a determinado município, estando estes, inabilitados para exercerem a medicina nos grandes centros. Além de não entendermos os motivos da discriminação, também não entendemos como seria feita a fiscalização destes profissionais pelo Conselho Federal de Medicina.

A outra providência legal do Governo Federal, foi a que elevou a carga horária dos cursos de medicina de 6 para 8 anos a partir de 2015, com início previsto para o próximo governo. Além de não possuir efeitos práticos, já que, se por um esforçado exercício de imaginação, fosse uma medida notável, só virá a ocorrer a partir de 2023, por ser extemporânea, traz consequências graves, como por exemplo, o custeio da supervisão dos médicos oriundos das faculdades particulares durante esses dois anos por parte do governo federal.

Na verdade, não dá para deixar de notar o contrassenso entre essas medidas, pois ao tempo que o Governo Federal autoriza a importação de médicos diplomados no exterior, sem se preocupar com a sua qualificação através da revalidação do diploma, parece crer na falta de capacitação do médico brasileiro após 6 anos de faculdade, já que entende necessário o aumento da carga horária do curso de medicina no Brasil.

Com essa medida, resta claro que a real intenção do Governo não seria a desconfiança na falta de capacitação dos profissionais após 6 anos de curso, já que os mesmos, nesses 2 anos relativos ao aumento da carga horária vão, na verdade, suprir a deficiência de médicos, sendo lotados nos hospitais do SUS com uma autorização provisória para exercício da medicina, a custos módicos de uma bolsa estudantil.

Estudo demográfico médico realizado no Brasil pelo CFM e CREMESP, entre 1970 e 2011, demonstrou que o número de médicos no Brasil passou de 58.994 para 371.778, já tendo atingido hoje a 400 mil médicos, o que significa dizer que o número de médicos aumentou algo em torno de 530%, enquanto a população no mesmo período aumentou 104,8%. A razão médico/habitantes de 1980-2011 aumentou 72,5%, ou seja, esta relação saltou de 1,13 médico por 1.000 habitantes em 1980 para 1,95 em 2011. O Brasil é o quinto país do mundo com o maior número de médicos, porém com uma grande desproporcionalidade no que se refere à distribuição entre as regiões brasileiras [1].

Daí que a primeira preocupação deveria ser em incentivar o profissional médico a iniciar sua carreira nas zonas rurais, dando-lhe a expectativa de promoções aos centros urbanos. O certo é que há muito tempo impõe-se uma reforma na carreira dos médicos e de outros profissionais da saúde voltados para o exercício da profissão na seara pública, demandando a contratação de profissionais somente por meio de concurso público, pondo fim às práticas do nepotismo e do clientelismo, atraindo assim os profissionais para as regiões mais distantes.

A questão está longe de ser um problema apenas de carência de médicos. O que se tem na verdade é a hipocrisia governamental, que para se esquivar de sua responsabilidade ante a caótica situação do belíssimo direito universal e gratuito à saúde criado pela Constituição de 1988, queira puni-los com medidas legais “enfiadas goela abaixo”, e, pior, maculando a imagem do médico perante a sociedade mais carente, pois é o profissional médico quem está na linha de frente junto a essa população que pensa que o ‘doutor’ poderia resolver tudo se quisesse.

Os médicos sim são forçados a trabalhar numa estrutura precária, improvisada e, muitas vezes, expondo a sua integridade física, moral e ética, como se de "guerra" fosse, cujos sonhos de realizar o bem maior através do compromisso de oferecer assistência ao próximo, após anos de estudo e sacrifícios pessoais, estão oprimidos pela realidade do atual sistema público de saúde brasileiro.

A população e os profissionais de saúde pedem socorro! Só não sabem a quem!

MADEIRO, Ricardo C. V.

Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza; graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará; Pós-Graduação em Medicina Legal pela Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro; Pós-Graduação em Direito Médico pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci; Pós-Graduando em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Estadual do Ceará; Residência Médica em Cirurgia Pediátrica e Geral; Conselheiro da OAB-CE; Presidente da Comissão de saúde da OAB-CE; Presidente do II Congresso Brasileiro de Direito e Saúde; Membro do Comitê Executivo Estadual da saúde do CNJ; Conselheiro do Conselho Estadual de Saúde do Estado do Ceará; Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Americana de Assunção.