O texto encontrado no site da Secretaria de Cultura de Recife, Núcleo de Cultura Afro-Brasileira,
resume bem o aspecto da herança em questão: “a herança africana, trazida por milhões de negros
e negras vítimas do tráfico transatlântico, com uma enorme diversidade de grupos étnicos,
fez do Brasil a segunda maior população de negros do mundo fora da África. Vivendo em condições
desfavoráveis, essa população negra brasileira, ao longo de sua história, utilizou-se de mecanismos
diversos para resistir à escravidão, que mesmo depois de um século abolida, faz amargar
frutos que geram a necessidade de uma resistência permanente. Essa herança de luta está representada
nas formas singulares de manifestações culturais, artísticas e religiosas. O sonho de
liberdade e dignidade do povo negro expressa-se de forma marcante na dança, na música, nas
artes plásticas, que tanto ajudou a preservar a memória
ancestral do povo negro brasileiro. No Recife, as diversas manifestações culturais afro-brasileiras
têm papel fundamental na rica cultura local. São de matrizes africanas, em sua grande maioria, as
manifestações populares que colorem os quatro cantos desta cidade. (...)”
Em oposição ao legado negativo da escravidão, existe uma herança afrodescendente positiva e
riquíssima no estado de Pernambuco, que se manifesta sobretudo na cultura: música, dança, comida,
etc. Nota-se, também, a influência afrodescendente na oralidade da fala pernambucana,
recheada de vocábulos provenientes da africanidade linguística (banda, cachimbo, fubá e moloque,
como exemplos), assim como alguns fenômenos linguísticos da oralidade e do português
popular que são atribuídos à influência africana, como o apagamento do /r/ no final das palavras
e a falta de concordância nominal, no português não padrão. Essas influências também ocorrem
em outras regiões do Brasil, mas de forma diferenciadas localmente, muitas vezes.
Muito dessa herança sobreviveu às perseguições e às discriminações, adaptando-se. Os terreiros
de candomblé de Recife, para esquivarem-se da política de repressão do estado, transformaram-
-se em sociedades carnavalescas, como o maracatu. Os negros, disfarçados de nobres, reverenciavam
a "Corte Real", mas na verdade evocavam os seus deuses. E assim continuaram por décadas,
resistindo e sendo discriminados. O Maracatu (Rural ou Urbano), que atualmente faz parte do
carnaval de Pernambuco, é propriamente um desfile carnavalesco, remanescente das cerimônias
de coroação dos reis africanos. A tradição teve início pela necessidade dos chefes tribais, vindos
do Congo e de Angola, de expor sua força e seu poder, mesmo com a escravidão.
Outro exemplo é o Frevo (Frevo de Rua, Frevo Canção ou Frevo de Bloco), que teve origem na
capoeira, cujos movimentos foram estilizados para evitar a repressão policial. O nome vem da
ideia de fervura (pronunciada incorretamente como “frevura”). É uma dança coletiva, executada
com uma sombrinha, que seve para manter o equilíbrio e embelezar a coreografia. Atualmente,
é símbolo do carnaval pernambucano.
Além desses ritmos, podemos citar o forró (com influências também indígenas e europeias;
baião, xote, xaxado e côco, que fazem parte do forró), o manguebeat (movimento de contracultura
surgido em Recife, que mistura outros ritmos regionais, como maracatu, com hip hop,
música eletrônica, etc) e a ciranda (um tipo de música e dança típica da Ilha de Itamaracá).
A Capoeira, trazida pelos negros de Angola, inicialmente, não era praticada como luta,
mas como dança religiosa. Mas, no século XVI, para resistir às expedições que pretendiam
exterminar Palmares (quilombo localizado na Capitania de Pernambuco, no território do atual
estado de Alagoas), os escravos foragidos aplicavam os movimentos da capoeira como recurso
de ataque e defesa. Em 1928, um livro estabeleceu as regras para o jogo desportivo de capoeira
e ilustrou seus principais golpes e contragolpes. O capoeirista era considerado um marginal,
um delinquente. O Decreto-lei 487 acabou temporariamente com a capoeira, mas os negros
resistiram até a sua legalização. E em 15 de julho de 2008 a capoeira foi reconhecida como
Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.
Na culinária pernambucana, o legado africano é encontrado em muitos pratos e temperos, com
destaque para alguns produtos que de lá vieram e que hoje são elementos fundamentais na alimentação:
a banana, o amendoim, o azeite de dendê, a manga, a jaca, o arroz, a cana de açúcar, o coqueiro
e o leite de coco, o quiabo, o caruru, o inhame, a erva-doce, o gengibre, o açafrão, o gergelim,
a melancia, a pimenta malagueta, a galinha d’angola entre outros. Com a escassez da alimentação
do escravo, os negros inventaram o pirão escaldado (massapê) e o mungunzá, por exemplo.
Fonte: Casa do Concurseiro
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