Jean Piaget é indiscutivelmente um dos pilares para entender o desenvolvimento humano, cujas teorias sobre o desenvolvimento cognitivo desafiaram e enriqueceram nossa compreensão sobre como os indivíduos crescem e evoluem cognitivamente da infância à idade adulta. Este crescimento não ocorre de forma linear ou estática; é dinâmico, impulsionado tanto por capacidades inatas quanto por influências ambientais. Essa dualidade, frequentemente encapsulada nos termos “natureza” e “criação”, é central para a compreensão de Piaget sobre a evolução cognitiva.
- Sensório-motor: De 0 a 2 anos
- Pré-operatório: De 2 a 7 anos
- Operatório concreto: De 8 a 12 anos
- Operatório formal: A partir dos 12 anos
Estágio Sensório-Motor
O desenvolvimento cognitivo, como postulado por Jean Piaget, inicia-se com o estágio sensório-motor, uma fase que se estende do nascimento até aproximadamente os 2 anos de idade. É um período marcado por descobertas intensas, onde o bebê começa a compreender o mundo ao seu redor através das sensações e movimentos.
Características e Mudanças Desenvolvimentais Principais:
Nesta fase, o mundo é percebido principalmente através dos sentidos e das ações. Ao mover-se e explorar o ambiente, o bebê adquire uma série de habilidades cognitivas. Algumas destas habilidades incluem:
- Permanência do Objeto: A compreensão de que um objeto continua a existir, mesmo quando não está visível. Aos 8 meses, a criança começa a buscar objetos que desapareceram de sua vista, indicando uma noção da continuidade da existência desses objetos.
- Auto-reconhecimento: O entendimento de que eles são seres independentes e que outras pessoas são separadas deles.
- Imitação Diferida e Jogo Representacional: O início da capacidade de representar o mundo mentalmente, onde a criança demonstra, em seu jogo, a habilidade de usar um objeto como símbolo para outro. Este é o prelúdio do surgimento da função simbólica geral.
- Emergência da Função Simbólica Geral: Durante o final deste estágio, a linguagem começa a surgir, refletindo a compreensão da criança de que as palavras podem representar objetos e sentimentos. Com isso, a criança começa a armazenar informações sobre o mundo, recuperá-las e rotulá-las.
Inicialmente, o bebê vive no presente, sem uma imagem mental do mundo armazenada em sua memória, levando à ausência inicial da noção de permanência do objeto. Esta falta de representação mental é evidente quando um objeto é escondido de um bebê, e ele não busca o objeto, pois para ele, o objeto deixa de existir.
Diferenças Individuais:
Práticas Culturais: Em algumas culturas, é comum que os bebês sejam carregados nas costas das mães durante todo o dia. Esse contato físico constante e os estímulos variados podem influenciar a maneira como uma criança percebe seu ambiente e sua noção de permanência do objeto.
Normas de Gênero: A escolha dos brinquedos pode ser influenciada pelas expectativas de gênero. Meninos podem receber mais carros ou figuras de ação, enquanto meninas podem receber bonecas ou conjuntos de cozinha. Tais escolhas podem influenciar as primeiras interações e explorações sensoriais da criança.
O estágio sensório-motor é um período de crescimento e descoberta intensos, estabelecendo as bases para os estágios subsequentes do desenvolvimento cognitivo. Reconhecer as nuances deste estágio e as influências externas que podem afetar a trajetória de desenvolvimento é crucial para profissionais da psicologia e áreas afins.
Estágio Pré-Operacional
No seguimento da teoria de Piaget, encontramos o estágio pré-operacional, uma fase que se estende dos 2 aos 7 anos de idade. Este estágio é caracterizado por uma série de mudanças significativas no desenvolvimento cognitivo da criança, assim como por algumas limitações distintas.
Características e Mudanças Desenvolvimentais Principais:
Pensamento Intuitivo e Egocentrismo: Durante esta fase, o pensamento da criança é predominantemente influenciado pela aparência das coisas, não pela lógica. Além disso, a criança demonstra um alto grau de egocentrismo, assumindo que todos veem o mundo da mesma forma que ela. Isso foi evidenciado no estudo das três montanhas.
Conservação: A criança neste estágio tem dificuldade em compreender a conservação, ou seja, não entende que a quantidade permanece constante mesmo quando sua aparência muda.
Função Simbólica: A habilidade de pensar simbolicamente emerge. A criança começa a usar a linguagem e a imaginação para representar o mundo, fazendo com que uma palavra ou objeto represente algo além de si mesmo.
Inclusão de Classes: A criança pode classificar objetos, mas ainda não consegue incluir objetos em subconjuntos, ou seja, classificar um objeto em várias categorias simultaneamente.
Animismo: Uma tendência marcante nesta fase é o animismo, onde a criança acredita que objetos inanimados, como brinquedos, possuem sentimentos e vida, semelhantes aos seres humanos.
Desenvolvimento Social: Com a progressiva redução do egocentrismo, as crianças começam a apreciar a participação de outros em seus jogos, e o jogo simbólico, como se fantasiar e ter amigos imaginários, torna-se mais prevalente.
Diferenças Individuais:
Narrativas Culturais: Crianças de diferentes culturas são expostas a histórias, mitos e folclores únicos. Essas narrativas podem influenciar como interpretam e compreendem elementos simbólicos.
Raça e Representação: A identidade racial de uma criança pode influenciar sua forma de brincar. A falta de representatividade em mídias e brinquedos pode levar crianças de diferentes etnias a recriar cenários que não refletem suas experiências ou origens.
Estágio Operacional Concreto
O Estágio Operacional Concreto ocorre entre 7 e 11 anos. Durante esse período, observa-se uma profunda transformação na capacidade de raciocínio das crianças, permitindo-lhes processar informações de uma maneira mais estruturada e lógica, porém ainda fortemente atrelada ao concreto.
Características e Mudanças Desenvolvimentais Principais:
Pensamento Lógico: Durante esse estágio, as crianças começam a raciocinar logicamente sobre eventos concretos, superando muitas das limitações cognitivas anteriores.
Conservação: Uma das conquistas mais notáveis é a capacidade de conservação. As crianças compreendem que, embora a aparência de um objeto possa mudar, suas propriedades fundamentais permanecem constantes. Elas demonstram a capacidade de conservar número (aos 6 anos), massa (aos 7 anos) e peso (aos 9 anos).
Reversibilidade Mental: Além disso, as crianças nesse estágio são capazes de reverter mentalmente ações, visualizando, por exemplo, uma bola de massinha retornando à sua forma original.
Decentração: A egocentrismo, tão presente no estágio anterior, começa a diminuir, permitindo que a criança compreenda que as pessoas veem o mundo de maneiras diferentes.
Limitação no Pensamento Abstrato: Apesar dos avanços, as crianças ainda enfrentam dificuldades com o pensamento abstrato. O raciocínio lógico é eficaz quando ancorado em materiais fisicamente presentes, mas torna-se desafiador em cenários hipotéticos ou abstratos.
Diferenças Individuais:
Contexto Cultural em Tarefas de Conservação: Em culturas onde os recursos são escassos, pode haver uma ênfase na preservação e reutilização de materiais, levando as crianças a demonstrarem habilidades de conservação mais cedo.
Gênero e Aprendizado: Estereótipos de gênero, como “meninos são melhores em matemática”, podem moldar a forma como as crianças abordam problemas lógicos, influenciando suas interações e percepções sobre tarefas baseadas em normas de gênero percebidas.
Estágio Operacional Formal
O Estágio Operacional Formal, que se inicia por volta dos 12 anos, marca a transição da infância para a adolescência no contexto do desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget. Esta fase é caracterizada por um salto qualitativo na capacidade de raciocínio, permitindo ao adolescente operar de forma abstrata e especulativa.
Características e Mudanças Desenvolvimentais Principais:
Operações Formais e Abstração: Neste estágio, a operação concreta, que atua sobre coisas tangíveis, é substituída pela operação formal, que atua sobre ideias. Os adolescentes não mais dependem de estímulos físicos concretos para processar informações.
Raciocínio Hipotético e Especulativo: Uma marca distintiva deste estágio é a capacidade de lidar com problemas hipotéticos, como refletir sobre as consequências de um mundo sem dinheiro.
Independência de Conteúdo: A partir dos 12 anos, os indivíduos conseguem seguir o formato lógico de um argumento, independentemente de seu conteúdo específico.
Emergência do Pensamento Científico: Os adolescentes começam a formular teorias e hipóteses abstratas quando confrontados com problemas, demonstrando a habilidade de pensar cientificamente.
Capacidade de Processar Conceitos Abstratos: Os adolescentes podem compreender conceitos como frações e divisão sem a necessidade de representações físicas concretas.
Diferenças Individuais:
Cultura e Pensamento Abstrato: Dependendo das ênfases culturais, diferentes formas de raciocínio lógico ou abstrato podem ser priorizadas. Em sociedades com forte tradição oral, por exemplo, a capacidade de reter narrativas complexas pode ser especialmente valorizada.
Gênero e Ética: A maneira como os adolescentes discutem ética e moralidade pode ser moldada por normas de gênero. Em algumas culturas, pode haver uma inclinação para que as meninas valorizem a harmonia comunitária, enquanto os meninos podem ser encorajados a priorizar os direitos individuais.
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