A Revolução Pernambucana foi um movimento revolucionário de caráter separatista e republicano que se iniciou em Recife em 1817. Essa rebelião manifestava a insatisfação das elites locais com os altos impostos cobrados pela Coroa portuguesa e também das classes populares com a desigualdade existente. Esse movimento, que se estendeu por pouco mais de dois meses, foi violentamente reprimido pelas autoridades portuguesas.
Contexto
A Revolução Pernambucana foi resultado da insatisfação local, tanto das elites quanto das camadas populares, com as medidas implantadas por ordem de D. João VI, rei de Portugal. Esse descontentamento foi intensificado com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808. A família real e a aristocracia portuguesa mudaram-se para o Brasil fugindo da invasão francesa em Portugal.
A chegada de D. João VI ao Brasil causou uma série de transformações que desagradaram, principalmente, as elites locais. O rei português impôs novos impostos sobre a Capitania de Pernambuco para financiar os luxos da Corte portuguesa no Rio de Janeiro e para custear as campanhas militares promovidas por D. João VI no sul do Brasil.
Outros impostos também foram criados, como a taxação sobre o açúcar e o algodão, principais produtos da economia local. Além disso, os habitantes de Recife pagavam um imposto que era utilizado para financiar a iluminação pública do Rio de Janeiro. Essa pesada carga de impostos ampliou a insatisfação, principalmente porque a economia de Pernambuco estava em crise pela baixa produção de açúcar e algodão, resultado de uma forte seca que ocorreu em 1816.
Para intensificar esse clima político nessa região, houve também a forte influência dos ideais iluministas e das revoluções liberais que tinham acontecido na França e nos Estados Unidos. A divulgação dos ideais iluministas em Pernambuco foi feita por uma loja maçônica chamada Areópago de Itambé, que reunia as elites locais. O Seminário de Olinda também foi um importante centro irradiador desses ideais.
Além disso, é importante destacar que a presença da família real no Brasil desagradou as elites no sentido que D. João passou a distribuir cargos e privilégios para portugueses em Pernambuco. Essa ação do rei prejudicou as elites locais e contribuiu para fortalecer o antilusitanismo na região.
Por fim, havia ainda um histórico de rebeliões na região de Pernambuco, como a Insurreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates. No século XIX, a insatisfação pernambucana com as medidas da Coroa levou também a uma conspiração conhecida como Conspiração dos Suassunas que, no entanto, foi denunciada e desmontada pelas autoridades em 1801.
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Bênção das bandeiras da Revolução de 1817, óleo sobre tela de Antônio Parreiras.
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Revolução Pernambucana
Diferentemente da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, a Revolução Pernambucana foi o único movimento de caráter separatista e republicano que conseguiu superar a fase conspiratória. Os revolucionários pernambucanos conseguiram tomar o poder local e mantê-lo durante um período de pouco mais de dois meses.
A Revolução Pernambucana foi elaborada e organizada por membros das elites locais, mas, assim que o movimento foi iniciado, contou com a adesão das classes populares. Os historiadores apontam que pequenos comerciantes, artesãos, padres, membros do exército, além de grandes proprietários e ilustres, participaram desse movimento.
A revolta foi deflagrada em 6 de março de 1817, quando o capitão José de Barros Lima assassinou o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro. Barros Lima reagiu ao receber voz de prisão do brigadeiro por estar envolvido em uma conspiração contra as autoridades portuguesas.
Depois disso, a rebelião espalhou-se por Recife, e os revolucionários conseguiram conquistar a cidade. O governador local, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, assim que o movimento estourou, escondeu-se no Forte do Brum e logo em seguida embarcou para a cidade do Rio de Janeiro.
Os revolucionários, vitoriosos, implantaram um Governo Provisório que realizou diversas mudanças na Capitania de Pernambuco:
- Foi proclamada a República na Capitania;
- Implantada a liberdade de imprensa;
- Implantada a liberdade de credo;
- Aumento no soldo dos soldados;
- Mantida a escravidão africana.
Essas foram algumas das medidas implantadas com o início da Revolução Pernambucana, que também elaborou um projeto constitucional e uma nova bandeira para Pernambuco – bandeira essa que, com pequenas diferenças, é até hoje utilizada para representar esse estado. Com o movimento vitorioso, os revolucionários procuraram expandir a revolta e buscar apoio. Com isso, eles buscaram estender a revolta para as localidades vizinhas como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Assim, foram enviados emissários pernambucanos para diferentes partes do Brasil e também do exterior. Os emissários enviados para a Bahia foram aprisionados e executados pelas autoridades locais, e um emissário chamado Cruz Cabugá foi enviado para os EUA com 800 mil dólares para comprar armas, contratar soldados e conseguir o apoio do governo americano para o movimento pernambucano.
A repressão da Coroa portuguesa foi intensa e, por ordem de D. João VI, uma frota foi encaminhada para bloquear o porto do Recife. Além disso, soldados foram enviados por terra da Bahia para atacar essa cidade. O cerco à capital pernambucana fez com que os revolucionários fossem rendidos no dia 20 de maio de 1807.
Os líderes do movimento tiveram punições exemplares e muitos foram enforcados ou arcabuzados – correspondente da época para fuzilamento. Um dos líderes do movimento, Domingos José Martins, foi arcabuzado, e outros envolvidos, além de mortos, foram martirizados. Vigário Tenório, por exemplo, foi enforcado, teve as mãos e cabeça arrancados e o corpo arrastado pelas ruas de Recife.
Três anos depois, os problemas vieram de Portugal quando estourou a Revolução Liberal do Porto, em 1820. Os acontecimentos dessa última é que precipitaram o processo de independência aqui. Mas esse é um assunto para nossa próxima publicação!
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